Editorial
Praga. A abdicação de um monarca é, no mínimo, um dos eventos menos frequentes de nosso cotidiano e justamente pelas razões mais óbvias, afinal, não se espera que uma figura coroada, cujo mandato é para toda a vida, encontre uma razão forte o bastante para renunciar ao trono.
Em nossa história este é um evento raro, mesmo com todas as transformações feitas na forma como o território alemão foi dividido e administrado. No Reich, as árvores secam com suas raízes firmes bem fundo no solo. Mas, inadvertidamente, uma surpresa pode ocorrer.
A abdicação do rei Carlos III da Prússia, neste 20 de setembro, data que também marca sua ascensão ao trono e outros eventos relevantes em sua biografia, ocorre com a típica cara da surpresa, sendo recebida inesperadamente por todos que tiveram previamente acesso à informação, como o círculo mais íntimo da família imperial.
A Prússia é, até este momento, o coração da produção heráldica de mais alto nível em toda a Lusofonia. A fama da qualidade técnica de sua arte é conhecida por praticamente todos os países que investem seu tempo na elaboração de sua identidade heráldica e é notória a fama atrelada à trajetória do rei emérito no desempenho de seu ofício. Mas todos estamos igualmente expostos às adversidades que a vida impõe sem piedade e diante delas não há o que ser feito, senão, uma escolha que continue a proporcionar à pessoa o acesso ao bem-estar que o micronacionalismo lhe representa.
Esta editoria deseja expressar sua mais sincera admiração ao agora margrave Carlos Frederico de Hohenzollern e desejar-lhe boa sorte em seus negócios futuros mesmo que à distância da Pátria Germânica.
Mal chegou e já se foi
Berlim. Na mesma cerimônia de inauguração da nova sede da monarquia prussiana, o Palácio Charlottenburg, em Berlim, o rei Carlos III Frederico firmou sua abdicação colocando um fim aos seus exatos dois anos de reinado.
Na presença dos membros da família imperial o agora margrave Carlos Frederico de Hohenzollern se dirigiu aos presentes e fez seu discurso de despedida, ato que precedeu sua final saída do território alemão.
Em suas linhas, o texto elenca as razões que desencadearam a decisão, procurando deixar patente que não há qualquer relação com discordâncias quanto à forma que a Alemanha vem adquirindo com a reforma do território. A questão, em si, é de âmbito privado relacionado a necessidades exteriores à realidade alemã que demandarão sua dedicação de forma muito maior ao seu já pouco tempo disponível. Sendo assim, a abdicação tornou-se uma forma de abrir espaço para um futuro monarca que possa se empenhar de forma mais profunda com as necessidades prussianas, bem como preencher as lacunas que o novo texto da Constituição Imperial abre.
O rei emérito também divulgou de forma muito ligeira sobre o seu futuro na vida como um cidadão do mundo (ainda que preservando seu vínculo com a família imperial). Não foram dados indícios objetivos sobre se irá fundar algo no futuro próximo, mas deixou claro que não perderá o contato com seus agora ex-compatriotas.
A única certeza, disse o margrave, é que seja o que for criado por sua mão em algum canto do mapa será feito de forma parcimoniosa justamente para permitir sua presença no micronacionalismo. Qualquer demanda a mais inviabilizaria o novo projeto. Portanto, não há certeza do que o engenho de Carlos Frederico de Hohenzollern possa criar. É um exercício de paciência, mas com certeza será gratificante ver o margrave pelas estradas da vida.
Ninho da Águia vazio
Berlim. A abdicação ao trono da Prússia abriu um busca pelo sucessor de Carlos III. Solteiro e sem filhos, o monarca renunciante desencadeou o processo de seleção do seu sucessor, tarefa que ficou a cargo de seus sobrinhos, o imperador Guilherme III e do rei Venceslau V da Boêmia. Nomes foram ventilados e o VN faz uma breve análise dos “coroáveis” enquanto a Casa Imperial não formaliza em definitivo quem será o sucessor ao trono em Berlim. Quem quer venha a receber as chaves de Charlottenburg vai também receber o site oficial prussiano inteiramente gratuito, fora um rico acervo heráldico que mal foi utilizado pelo rei abdicante.
- Carlos Gustavo de Vyšehrad
O príncipe boêmio é um nome que também consta na lista de pretendentes à Coroa da Prússia. Igualmente protestante e sobrinho-neto do rei abdicante, Carlos Gustavo tem a seu favor o vínculo dinástico, a experiência de ter já governado o Império como chanceler e ter sido rei da Iugoslávia antes de retornar a Praga. Sua habilidade técnica chamou a atenção do tio-avô e poderia habilitá-lo como Reichsharold (o rei-de-armas imperial), mas também pode afastá-lo da disponibilidade que assumir o reino prussiano impõe. Também existem seus projetos na Boêmia que talvez possam fazê-lo repensar pegar o trem para Berlim.
- Afonso Filipe da Batávia
Outro dos cinco sobrinhos-netos de Carlos Frederico, o filho mais novo do imperador e atualmente rei batavo poderia ser indicado sucessor em Berlim. Seus predicados técnicos, como o conhecimento jurídico e sua experiência política, poderiam impulsionar sua candidatura mesmo após o episódio que capitaneou na questão da emenda constitucional já documentada por este periódico. O problema, na realidade, seria o futuro da Batávia, já que está descartada a união pessoal. Logo, se fosse indicado como sucessor na Prússia, teria de abdicar em Bruxelas e o evento raro de uma abdicação real ficaria mais inapropriadamente frequente que o desejado, além de colocar em dúvida o futura da Batávia, pois Afonso Filipe não tem um herdeiro.
- Venceslau da Boêmia
Em situação análoga ao seu sobrinho batavo, o rei da Boêmia também é visto como potencial candidato à sucessão na Prússia, o que resultaria na renúncia ao trono em Praga. Neste caso, porém, a situação seria um pouco diferente, considerando que o príncipe Carlos Gustavo é o herdeiro presuntivo à Coroa de São Venceslau e garantiria a continuidade da monarquia Vyšehrad que passaria a controlar simultaneamente dois dos principais estados do Império. A dúvida é se o rei Venceslau aceitaria deixar o Castelo de Praga para ir viver com a rainha Elizabeth em Charlottenburg após todo o esforço empreendido na construção do estado boêmio.
- Douglas de Hohenzollern
O príncipe da Baviera e filho mais velho do imperador seria um bom nome para suceder o tio-avô em Berlim. Acumula boa experiência com o funcionamento da máquina pública alemã e saberia bem como conduzir o estado prussiano, mas a questão abre um complicador estadual, uma vez que é esperado do príncipe maior envolvimento com o governo bávaro. Deixar Munique implicaria em reorganizar a linha de sucessão no reino, algo que seguramente favorece seu irmão, o príncipe Conrado, que não é visto no Nyphemburg há muito tempo. A situação do príncipe Douglas, então, se torna um tanto imóvel por esta razão na Baviera, seria como cobrir o pé e descobrir a cabeça.
Quem ficará com o dinheiro?
Uma das perguntas que não temos ainda resposta é com relação ao patrimônio líquido do margrave Carlos Frederico. Em tese, o rei emérito da Prússia pode permanecer com o saldo uma vez que é sua propriedade, mas que razão haveria em manter a quarta maior fortuna da Alemanha se não irá usufruí-la? Então, o mais esperado, é que a bolada de quase 60 mil táleres (já deduzida a CGF) mude de mão.
A hipótese mais plausível é que o dinheiro vá para seu sucessor escolhido, tornando-se em um belo cartão (de crédito) de boas vindas, sem dúvida! Outra possibilidade é o dinheiro ser repartido entre os sobrinhos (o imperador e o rei boêmio) e o restante da família (cinco sobrinhos-netos). E há, obviamente, o destino mais elementar: ser recolhido pelo Tesouro como espólio. A conferir quem acordará mais rico com o presente do Bom Velhinho prussiano.
